Tinha acabado de acordar, foi uma noite boa eu tinha dormido bem, coloquei a minha playlist da vida, aquela que eu alimento tem uns 7 anos, com a maioria das músicas que marcaram e que eu gosto de alguma forma especial. Tudo o que eu faço é com música, até dormindo eu coloco uns instrumentais gospel pra rolar, e nesse dia eu queria tomar banho ouvindo essa play... Tirei minha roupa e parei na frente do espelho, passei a mão pelo meu cabelo sujo e bagunçado e fui descendo as mãos e parei na minha barriga e sorri, e falei baixinho "te amo pancinha"
Passei a mão por algumas cicatrizes e lembrei rapidamente de como aconteceu e do processo de cicatrização. Se tem uma das coisas que eu jamais mudaria no meu corpo são as minhas cicatrizes, não que elas sejam grandes e aparentes, não que eu tenha muitas, mas as poucas são suficientes para me lembrar da minha fortaleza de gente! Na verdade, eu sou apegada às histórias que elas produzem e amo contá-las. Olhei bem na cintura, eu tenho uma única estria. Ela está sozinha. Não tem outras ao lado para acompanhá-la. E eu gosto dela por causa disso. Ela é tão "larguinha" e tão sozinha.
E lá estava eu parada na frente do espelho, ouvindo minhas músicas e quando eu reparei meu corpo estava balançando sozinho. Sim eu dei uma dançadinha enquanto eu me olhava...
Estava me curtindo.
É óbvio que se eu pudesse mudaria algumas coisas no meu corpo, mas não as odeio. Essas micro partes que dizem que estão fora do lugar, eu vejo como sagrado é o meu templo, meu corpo que está comigo há 33 anos.
Terminei meu banho e aquele cheiro de cabelo lavado invadiu o quarto! Eu amo o cheiro de cabelo lavado! Eu tinha passado o shampoo duas vezes, fiquei apaixonada naquele momento pelo meu cabelo lavado, como se estivesse sentido ele pela primeira vez.
Coloquei uma camiseta longa sem nada por baixo e uma meia nos pés, voltei para o espelho e gostei do que vi. Uma mulher de camiseta, meia e cabelo lavado não quer guerra com ninguém. Fui até a cozinha, fiz meu Nescau e em seguida sentei no escritório, a playlist da minha vida ainda estava rolando e naquela manhã eu trabalhei bem bonito sem procrastinar
Eu me amei naquela manhã e senti orgulho do meu potencial em me amar apesar de tanta coisa, apesar de mim mesma. Me olhei com amor, ri do meu desastre chamado pancinha, passei duas mãos de shampoo no cabelo e bebi um Nescau quentinho.
A minha melhor escolha dos últimos tempos tem sido o amor próprio.
Um amor persistente. Um amor prático do dia a dia, que me ensina e me faz expandir...
