Foi um dia bem quente em Lauro de Freitas mas eu estava tipo a Frozen, fria e bem no automático, eu estava com os miolos fritando, minha família ligando, foi um dia 13 de abril, quando vi os meus pertences naquelas sacolas do Assaí, tudo embolado e confuso igualzinho os meus pensamentos. Só sei que deixei até feijão no fogo, tinha colocado para almoçar, era umas 15h da tarde eu não tinha comido nada. Revivi essa cena várias vezes na minha mente e cheguei à mesma conclusão em todas as vezes "precisava ser assim" caso contrário não tinha deixado tudo para trás, já tinha tentado algumas vezes fazer certinho sem essa loucura mas nunca dava certo. Mudanças grandes precisam ser assim bem loucamente e bem silenciosamente.
Resolvi comunicar apenas 5 pessoas do meu convívio, vale ressaltar que eu comuniquei a minha mudança, eu não pedi opiniões, eram pessoas que naquele momento eram importantes. Dos 5, apenas um deles se espantou muito, chorou e mostrou indignação as outras 4 pessoas, sorriram e apoiaram e no final falaram "sentiremos a sua falta, vá ser feliz!" Elas já tinham visto tantas evidências de que eu estava morta que bastou uma conversa para elas soltarem o tão veredito final da parte delas. "Vai embora"
Eu não desejo para ninguém, apesar da sensação ser libertadora desde o primeiro dia, resumir a vida em sacolas de mercado e depois pegar uma mala com o meu irmão, e colocar tudo dentro, em poucas horas decidir "ah isso é importante e isso não é" é bem tenso... Me lembro de chorar só na primeira noite que passei longe da minha antiga cama e dormi na casa do meu irmão até poder me mudar definitivamente de cidade.
Ouvi uma vez que nós mulheres não temos a capacidade de esquecer e perdoar. Eu faço uma reinvenção desta frase na minha ótica, nós perdoamos mas não esquecemos. Esquecimento é amnésia, a amnésia é doença. Não estou doente. Na verdade, entendo que devo perdoar o tanto que necessito de perdão também. Ou seja, muito! Não relativizando esse lance de perdão pode até desmerecer tudo o que eu sofri, e invalidar as minhas tentativas de sobrevivência. Mas entenda, quando alguém te faz mal uma vez o erro é da pessoa, quando te fazem mal pela segunda vez é com você decidir dar uma segunda chance, cabe até aquela frase "errar é humano" mas quando te ferem pela terceira vez ou mais o erro é seu em ficar. Eu fiquei, me fizeram ficar, fui ficando e mereço perdão por isso. Fui me desconfigurando em nome de sei lá o que...
Levei nota 0, porque precisei estar fora do padrão para sobreviver. Durante muitos anos para mim era contraditório estar com as mãos na obra do Pai e estar morta por dentro, mas eu sempre fiz com todo o meu amor e com o coração puro, fiz para Ele e em nome Dele. Não foi para pessoas. Eu nunca entendi a minha capacidade remota de mostrar estar bem, fazer tudo com amor mas desejar morar com Jesus o tempo todo!
Nunca ouvi "não quero mais andar com você" mas pouco a pouco algumas pessoas pararam de aparecer, algumas curtidas parei de ganhar... Natural, quem quer se comprometer? Em uma história de divórcio é automático as pessoas escolherem um lado, é natural, é difícil encontrar uma pessoa neutra.
Só sei que além de ver poucos do meu lado não vi nem os neutros, não que eu esteja hoje e agora magoada, mas no início doeu bastante, a impressão que eu tinha era de uma doença contagiosa, ou um pecado mortal cometido, até hoje recebo mensagens das pessoas questionando a minha decisão, porque sim, a decisão foi minha!
Percebendo isso o fã clube de Jesus me reprovou, triste demais pra ser verdade, pessoas que professam o amor são tão seletivas assim, e afirmo, essa postura poderá levar alguém para o inferno.
Mas toda essa dor que nasceu em mim, me fez mais valente e fui ganhando muito apesar de ter perdido muito também.
Uma certa vez eu estava no culto do Bola a convite do meu irmão Gui, eu entrei na igreja cheia de motivos e se alguém falasse alguma coisa, eu já estava com tudo pronto e a resposta na ponta da língua, eu queria ser mal educada e dar uma boa resposta para qualquer "irmãozinho" que cruzassem o meu caminho hahaha, orei o seguinte: "Senhor eu estou aqui porque te amo, mas se alguém me falar alguma coisa eu juro que euuu ahhrrr" Só sei que durante a palavra o pastor largou um "Eu te peço perdão como igreja se alguém te magoou, eu te peço perdão se a igreja tinha que ser a sua casa e te feriu, eu te peço perdão no lugar daquele pastor..." Eu só sei que choreeei largaaado! As minhas lágrimas molharam toda a minha máscara e foi um choro de lavar a alma, diante de tudo eu confesso que era só aquilo que eu esperava da igreja e do fã clube. Acolhimento.
Diante de tantas mensagens que recebi nos últimos tempos, uma delas encheu meu coração "eu vejo uma Bruna com os olhos brilhantes" A contradição de estar bem e não frequentar assiduamente uma igreja me deixa encucada. Eu sei que esse dilema está longe de acabar e nas minhas orações de porta fechada no meu quarto eu falo disso tudo, dos meus medos, dos meus acertos e sorrisos, muitos novos sorrisos.
Ele continua cuidando de tudo apesar de mim. E a sociedade continua apontando tudo apesar de mim.
Fazer o que?