Acordei meio sonolenta enquanto ouvia de longe um samba baixinho vindo da sala e lembrei que eu preciso lembrar de sempre colocar música pra dormir e assim ser a música a primeira coisa a sentir ao acordar. Tinha passado a última noite em parto que inclusive foi lindo, estava com o coração aquecido com aquela sensação de que estou no caminho certo e meus pensamentos naquele final de manhã não estavam ansiosos, eu estava em paz e queria continuar em paz. Fiz 40 minutos de Yoga colocando o meu corpo na mesma atmosfera que estava a minha mente...
Fiz um Nescau e enquanto tomava preparava a prévia de fotos do parto para enviar ao mesmo tempo respondia as mensagens do meu WhatsApp e me deparo com a seguinte pergunta, escrita em caixa alta “CADE MINHA AMIGA” em seguida eu respondi “FUNILARIA HOJE” ... O Fer e eu estamos em uma fase que as nossas agendas estão impossíveis, e acho lindo a nossa infinita vontade de tentar uma breja de leves regada de afeto e resenha... Senti gratidão pelo Fer e lembrei por alto dos amigues e das conexões sinceras que tenho...
Ri do grupo da família, conversei com Mainha, recebi música do Le e meme de cachorro do Fá. Voltei para o grupo do role checando a possibilidade do Funi e na tela do computador recebi um lembrete que tinha esquecido uma reunião importante então deixei a prévia e as mensagens e reagendei minha reunião. Terminei a prévia postei e me emocionei com o resultado, quando voltei para o WhatsApp tinha novamente 300 mensagens que eu filtrei as mais importantes e as respondi...
Passei aquela tarde e início da noite nesse rodízio de acontecimentos e então comecei a me arrumar, o Funi estava confirmado, como sempre não sei decidir minhas roupas e a Vida me disse que o look que eu tinha escolhido estava errado apesar de lindo, era uma noite quente eu precisava colocar minhas pernas pra jogo. Shorts jeans, blusinha nude e Nike básico nos pés. Cabelo solto e indefinido colar de pedrinhas e bolsinha básica preto. Meu look de estreia no primeiro Funi do ano, que aliás eu estava ansiosa pra saber se eles haviam mudado alguma coisa no lugar e sim mudaram! Estava pronta, fui para o metrô tínhamos marcado 22:30h na estação Brigadeiro que no caso meus amigos chegaram com 1h de atraso.
Enquanto os esperava dentro da estação, um morador de rua foi até uma lixeira procurar algo e encontrando uma latinha começou a batucar um samba enquanto olhava pra mim, internamente eu estava sorrindo e comecei a apreciar aquele momento satisfatório, ele cantava: “Mas chegou o carnaval e ela não desfilou eu chorei na avenida, eu chorei, não pensei que mentia a cabrocha, que eu tanto amei...” Externamente eu não sei qual foi a minha expressão corporal, mas o tanto que eu curti aquele improviso, aquela voz rouca de cigarro cantando com muita vontade um samba de respeito. Foi poético.
Finalmente eles chegaram e na saída da estação a gente se abraçou e soltamos: “olha a gente junto de novo hahaha” descemos a avenida conversando e nos ouvindo, fazendo o nosso esquenta e enfim chegamos no Funi que estava sem fila graças as Deusas, entramos e que samba gostoso que lugar que xeque mate que caos que Funilaria. Comecei a encontrar algumas pessoas que haviam visto o meu post e todas falaram coisas parecidas com “estou aqui só por causa do seu Stories” Uma delas foi a Lu que me encontrou num abraço apertado e gostoso e quando menos eu esperava, estava sendo o recheio de um sanduiche de Luci e Bruna e que delícia, eu virava meu olhar pra cima enquanto curtia o sanduiche no ritmo do samba... Quando elas me soltaram eu já estava entregue aquele lugar, fiquei soltinha e arrisquei uns passos, na nossa roda tinha muita dança doida e testa soada, olhei para o lado e a Misture chegou completando a nossa resenha... Um pouco cansadinha fui aproveitar a novidade do Funi, eles colocaram uma espécie de arquibancada que ficou perfeito para os “sentantes” do role, lembro que neste momento de frente pra Bru, falei o quanto eu fiquei com saudades dela nos dias que ela ficou fora, nos abraçamos demorado, choramos, fizemos declarações e por fim sentamos, dei um selinho no Dani e disse “feliz dia do fotografo!” Na verdade eu puxei o rosto dele, ele não teve muito opção hahaha... Neste momento fiz algumas conexões onde rolou tanta conversa boa, muita brisa e afeto e por fim fui ao banheiro, dei mais uma volta e chamei o Uber pra ir embora. Voltei conversando com o carinha do Uber que se mostrou bem interessado em interagir e perguntou como foi o meu dia:
“Acordei bem, meu dia foi simples e bom, estou terminando-o num lugar que gosto de ir pra ouvir o que eu amo, vou escrever sobre esse dia, eu escrevo umas coisas você sabia?!...”
Já em casa mergulhei no meu chuveiro e depois num lençol trocado do dia e um pijama cheiroso sentia um soninho chegando, adormeci ainda com a sensação boa da manhã.
Não que tenha acontecido algo extraordinário, mas de passar o dia em paz, tendo autonomia sobre as minhas decisões e na medida do possível ver que naquele dia absurdamente eu conseguia ver tudo sob controle ou completamente capaz de resolver qualquer BO. Muito se fala sobre o último dia das nossas vidas, sobre o fim das coisas, como será? Mas não falamos sobre o primeiro dia da vida, e se pudéssemos escolher esse dia como ele seria? Não sei se pelo fato de estar em uma fase de concreta de maturidade sobre algumas coisas, entendendo que tudo pode mudar a qualquer momento, e me ver em paz com isso é reconfortante. Se vejo desde o início que nada é pra sempre eu posso tirar a potência de algumas situações sim, apesar de sentir muito algumas delas.
Se eu pudesse, no dia do meu nascimento ver e entender um dia simples da vida adulta seria esse, é satisfatório a minha versão atual que por hora está sem conflitos internos, mas com muita responsabilidade e demanda de adulto. Isso me mostra a vida acontecendo apesar de, apesar de que, apesar de mim e de tudo que rege o mundo. Se desse para estrear na vida assim acredito que não resolveria grande parte dos meus problemas, mas ao menos saberia, que de tantos dias vividos existiria até então um dia que eu poderá ver antes de vive-lo. Chamando esse texto de Primeiro dia da Vida. Sonhando algo aleatório e cheio de ficção e agradecendo a arte por me dar esse direito.
Foto: Jade Felix